Desnitrificação no Aquascaping: Um Aliado Escondido

Hoje vamos falar sobre a desnitrificação no contexto do aquascaping — um tema que, até há poucos anos, raramente surgia nas conversas entre aquariofilistas. Isso porque, antigamente, as matérias filtrantes utilizadas não eram eficazes a criar zonas anaeróbias no filtro, fundamentais para o processo de desnitrificação.


Aquário plantado equilibrado — onde ocorre naturalmente a interação entre nitrificação e desnitrificação.

Mas afinal, o que são zonas anaeróbias?

As zonas anaeróbias são áreas com pouca ou nenhuma presença de oxigénio. São cruciais para o desenvolvimento de bactérias anaeróbias, que são capazes de consumir nitratos (NO₃⁻) como fonte de energia, convertendo-os em gases menos tóxicos como óxidos de azoto (NO, N₂O) ou azoto molecular (N₂), que se libertam para a atmosfera. É, portanto, o passo final do ciclo do azoto — e o que pode “fechar o ciclo do lixo” num aquário.

A evolução dos filtros e matérias filtrantes

Nos aquários plantados modernos — com substratos ricos como aquasoil, fertilização líquida, injeção de CO₂, iluminação intensa, etc. — a filtração biológica normalmente também é de grande qualidade. É sinal de que estamos perante um setup de um verdadeiro aficionado, um aquariofilista moderno que gosta de estar na vanguarda do hobby — tal como a Soluções Aquáticas.

Matérias filtrantes modernas como o MasterLine FilterMAX e o Seachem Matrix permitem colonização aeróbia e anaeróbia simultânea.

Atualmente, muitas matérias filtrantes de nova geração, como o MasterLine FilterMAX ou o Seachem Matrix, permitem a colonização simultânea de:

  • Bactérias aeróbias no exterior do material (onde a água circula mais depressa e rica em oxigénio)
  • Bactérias anaeróbias no interior dos poros (onde a água entra lentamente por capilaridade, com muito menos oxigénio disponível)

Isto significa que, após alguns meses de funcionamento do aquário, é possível que se formem colónias estáveis de bactérias desnitrificantes dentro da matéria filtrante.

E o que acontece com os nitratos?

Tradicionalmente, o excesso de nitratos acumulava-se na coluna de água, vindo da decomposição da matéria orgânica (excrementos, restos de comida, plantas em decomposição) ou da sobrefertilização. Hoje, com este tipo de filtração biológica, muitos aquários conseguem manter níveis de nitrato muito baixos — não por falta de nutrientes, mas graças à ação direta das bactérias anaeróbias que os eliminam.

Benefícios diretos:

  • Água mais limpa
  • Menos matéria orgânica dissolvida
  • Maior controlo sobre o equilíbrio nutricional

Deixamos de contar com o que é gerado internamente — que muitas vezes podia desequilibrar o nosso plano de fertilização.

Se queremos níveis baixos para, por exemplo, intensificar os tons vermelhos das plantas — como acontece com as Rotalas — agora conseguimos reduzir os nitratos até perto de zero com muito mais segurança.

Antigamente, era muito mais difícil conseguir plantas vermelhas sem a ação da desnitrificação. Havia uma produção constante de nitrato que, mesmo que não acusasse nos testes, estava sempre a alimentar as plantas, impedindo que estas atingissem o stress necessário para mudar de cor.

Um aspeto adicional: o tipo de nitrogénio que adicionamos

Quando fertilizamos o aquário, adicionamos diferentes formas de nitrogénio:

  • Nitrato (NO₃⁻)
  • Amónio (NH₄⁺)
  • Ureia (CO(NH₂)₂), que é convertida em CO₂ e amónio

Sem aprofundar agora esse tema — que ficará para outro artigo — é importante perceber que, no contexto da desnitrificação, o tipo de fertilizante que usamos faz mesmo diferença.

Na minha opinião, é importante escolher um fertilizante que inclua fontes de absorção rápida de nitrogénio pelas plantas, como:

  • Nitrato de amónio (onde o objetivo é o amónio)
  • Ureia (que decompõe em amónio e CO₂)

Em ambiente com luz intensa e CO₂, as plantas absorvem este nitrogénio rapidamente — antes da conversão bacteriana. Se não o fizerem, o amónio será convertido em nitrito e depois em nitrato, voltando ao ciclo.

Exemplo prático: MasterLine All In One Lean

Um dos fertilizantes com mais sucesso na Europa e em Portugal na potenciação de cores é o MasterLine All In One Lean. Este fertilizante tem:

O MasterLine All In One Lean: equilíbrio entre amónio e nitrato para um crescimento controlado e cores intensas.

  • 50% do nitrogénio proveniente de amónio (ureia)
  • 50% de nitrato

Com isso:

  • Damos às plantas de crescimento rápido uma dose controlada de nitrogénio
  • Fornecemos nitrato às plantas mais lentas
  • A dose total é baixa, o que facilita a intensificação das cores

Esta estratégia não seria possível sem desnitrificação, pois o sistema continuaria a gerar nitrato de forma lenta e constante.

O papel do tamanho do aquário e do caudal do filtro

Será este efeito de desnitrificação igual em todos os aquários?

Não. Cada aquário é único. Mas há um fator comum: o volume do aquário e o caudal do filtro.

  • Um aquário 60P (60x30x36 cm) → filtro com menor caudal
  • Um aquário 90P (90x45x45 cm) → filtro mais forte

Na prática, a desnitrificação tende a ser mais intensa em aquários pequenos com filtros de menor caudal. A água passa mais devagar, cria mais zonas anaeróbias e favorece as bactérias desnitrificantes. Num filtro potente (ex: 4500 L/h), se a água circular demasiado depressa, o efeito será reduzido.

Como gerar desnitrificação em filtros de alto caudal

É possível! Basta reorganizar internamente a filtragem para reduzir a velocidade da água. A ideia é criar múltiplos caminhos e zonas de fluxo lento.

Exemplo de organização interna para promover zonas de fluxo lento e atividade anaeróbia estável.

Dicas práticas:

  • Compactar moderadamente as matérias filtrantes
  • Usar granulometrias progressivas, por exemplo:
    • Seachem Pond Matrix (maior dimensão)
    • Seachem Matrix
    • MasterLine FilterMAX
    • Seachem DeNitrate (opcional)

Com esta configuração, a água atravessa várias camadas, abranda naturalmente e permite o desenvolvimento de bactérias anaeróbias no interior.

Em resumo, o que ganhamos com isto:

  • Aquário mais limpo e com menos matéria orgânica
  • Menor acumulação de nitratos gerados pelo sistema
  • Maior controlo sobre a fertilização
  • Melhores cores nas plantas, especialmente os tons vermelhos
  • Possibilidade real de fechar o ciclo do azoto de forma eficiente e natural

O que devemos ter em atenção

 

  • Devemos testar nitratos com mais frequência, mesmo quando fertilizamos; nem sempre, por exemplo, o MasterLine All In One Lean poderá ser suficiente a nível de nitrogénio. Às vezes é necessário complementar à parte com um fertilizante só de nitratos ou até mesmo mudar de All In One.
  • As plantas competem com as bactérias pelo nitrogénio disponível.
  • Um excesso de desnitrificação pode causar carência de azoto → crescimento travado, folhas pálidas ou amarelas.

Texto publicado por Ivo Lança Soares — 06/04/2025

Controlem os níveis de nitratos!